quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Cada sacristia uma Liturgia! Será?



Uma das frases mais lamentáveis a cerca da liturgia que já ouvi é justamente a que intitula esse texto. O mais triste é que ela não é apenas uma frase e sim uma pratica constante, principalmente aqui no Brasil. Os reflexos dessa “pratica” podem ser facilmente notados quando se reduz o termo liturgia apenas para a Santa Missa e o mais desesperador é perceber que mesmo assim o serviço litúrgico paroquial se resume em preparar pequenas frases para anteceder a procissão de entrada, as leituras, o ofertório, a distribuição da santa eucaristia  e preparar as preces, salvo as “criativas” equipes que conseguem pensar uma “dancinha” para cada momento desse com o pretexto de dinamizar a Missa. 
Mais lamentável ainda é por vezes vermos presbíteros incentivando essas praticas que em nada ajudam os fieis a entenderem o mistério celebrado na Santa Missa, enquanto se a postura fosse outra não seria necessário “criar” dancinhas, entradas, encenações e coisas do tipo para deixar a missa mais “dinâmica”. “O homem sozinho não consegue mesmo ‘criar’ um culto fácil porque, sem Deus se revelar fica sempre insignificante”[1]e mais é preciso adentrar no próprio espírito da Liturgia pois quando se entende o que se celebra ouve-se Deus que fala e age na Igreja e pela Igreja e ai não sentiremos necessidade de ‘criar’, uma vez que dentro do ‘jogo’ que é a liturgia as cartas ou se quisermos as regras são dadas por Deus. A liturgia “não pode ser fruto da nossa fantasia e criatividade – pois assim seria apenas um grito na escuridão ou simplesmente a afirmação de nós próprios”.[2]
Não se trata agora de engessarmos os ritos litúrgicos todos e assim causarmos desconforto tanto para quem preside quanto para os que celebram, porém faz bem e é sadio formar e formar bem os agentes que se dispõem para se dedicarem ao serviço litúrgico. Estamos num tempo favorável para provocarmos uma retomada ou para alguns um primeiro contato com os documentos acerca da liturgia principalmente a Sacrosanctum Cocilium e os que nasceram a partir dele como o documento 43 da CNBB – Animação da Vida Litúrgica no Brasil – e os documentos sobre o canto pastoral, os específicos da Santa Missa enfim é momento de falar de Liturgia e de levar a todos a um encontro com esse rico tesouro que é a Liturgia na vida da Igreja.
Os padres conciliares foram muito felizes quando definiram a liturgia como “o cume para qual tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo a fonte de onde promana toda sua força”[3], mas antes deixaram claro que ela não é a única atividade da Igreja e alertam que “antes de ter acesso à liturgia é preciso ser conduzido a fé e se converter”[4], ou seja, nosso  trabalho é anterior devemos primeiro conduzir o povo para a solidez de sua fé, por isso reafirmo a importância de se formar, porém o que mais assusta não é que faltam os dispostos a entrarem no processo e sim quem se prontifique a orientá-los, a figura de quem está a frente da liturgia os chamados, “liturgistas”[5] são sempre amados por poucos e odiados por muitos, pois acabam por implantar ideias próprias ou com até certo tom de verdade mas não são capazes de ir mais fundo e de levar os agentes a compreensão de que a liturgia é primeiramente uma ação divina, que deve aproximar o povo da Palavra de Deus e deve ainda proclamar o designo salvador de Deus, isso quando não ficam parados em questões banais como o famoso “pode ou não pode”, distanciando-se do real espírito da liturgia que não pode separar-se da vida pois em Deus “vivemos,nos movemos e existimos” (At 17,28), se assim não for estaremos fazendo da liturgia como nos alerta o então, Cardeal Ratzinger, “uma mera brincadeira, ou pior, o abandono do Deus verdadeiro, disfarçado embaixo de um tampo Sacro” por isso encontramos tantas pessoas vazias, pois não encontram na celebração da Liturgia da Santa Missa, dos Sacramentos enfim um lugar privilegiado de estar com o Senhor, de conhecê-lo e também para Deus mostrar quem Ele é, pois por vezes não damos espaço para isso.
Não podemos compactuar com “cada sacristia uma liturgia” justamente porque uma coisa é inculturação e outra bem diferente é depreciação do sagrado, falta de zelo e de amor. Reafirmo, não precisamos nos tornar robôs, profissionais repetidores do rito litúrgico, mais sim Homens e Mulheres que celebram com o coração, com a vida e mais que isso, sabem o que estão celebrando e assim poder dizer sem medo que quem realiza todas as coisas em nós: é o Senhor (Jo 21,7) .  

Um abraço Fraterno!





Referencias bibliográficas:

RATZINGER,Joseph -  Introdução ao espírito da Liturgia – 4° Ed. Paulinas, São Paulo 2011.
CONSTITUIÇÃO SACROSANCTUM CONCILIUM SOBRE A SAGRADA LITURGIA – Vaticano II – Paulinas São Paulo 2007.



[1] Ratzinger p.15
[2] Idem
[3] Sacrosanctum Concilium n.10.
[4] Idem n.9
[5] O termo aqui não está se referindo aos liturgistas por formação e fazem jus ao titulo e sim os simpatizantes e presbíteros que se destacaram nessa área e por isso se dispõem a formar e são assim chamados pelo povo. 

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