quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Qual amor eu tenho por mim???

Quando lemos a perícope do Santo Evangelho em que Jesus nos ensina que o maior de todos os mandamentos é Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos, (cf Mt 22, 34-40) duas reflexões devem ser feitas, a primeira é; Que é o Amor? E a outra, Como eu me Amo? Justamente porque sabemos que Amar a Deus que “teoricamente” ou “fisicamente” não vemos é fácil, até porque como nos afirma Bento XVI em sua primeira Encíclica;

 E, contudo, Deus não nos é totalmente invisível, não se deixou ficar pura e simplesmente inacessível a nós. Deus amou-nos primeiro — diz a Carta de João citada (cf. 4, 10) — e este amor de Deus apareceu no meio de nós, fez-se visível quando Ele “ enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que, por Ele, vivamos” (1 Jo 4, 9). Deus fez-Se visível: em Jesus, podemos ver o Pai (cf. Jo 14, 9).”[1]

A justificativa de que Deus não tem rosto nem nome, já não vale mais ou ainda a de que criamo-lo por necessidade não se sustenta quando entendemos que é possível sentir Deus porque ele primeiro no amou e em nós faz sua morada a cada eucaristia que comungamos. Amar a Deus é sim muito fácil quando provamos seu Amor. 
Agora quando partimos para o âmbito do amar o outro como eu me amo, as coisas ficam bem preocupantes, vejamos hoje se prega que só devemos gostar de quem gosta da gente, ou ainda, apenas aos que podem me dar alguma recompensa ou um tipo de prazer. Assim corre-se o fascinante risco de se “auto-adorar” é o que comumente chamamos de “eu me basto a mim mesmo”, arisco a dizer que nunca o narcisismo[2] esteve tão em evidencia como nos últimos tempos. Parece que o justo grito de liberdade que tanto se pedia nos momentos históricos de privações de todo tipo, hoje se tornou antagonismo puro.
Isso claro, não justifica a descrença na humanidade ou ainda de se aplicar aquela injusta frase “esse mundo está perdido”, até porque é justamente o contrario é por mostrar que existe uma maneira justa e tão boa ou até superior de amar-se que é deixando se amar também, que vale a pena apresentar esse amor ao mundo, é preciso mostrar que a partilha é um dom.
Se procurarmos em vários escritos sagrados encontraremos entre eles no alcorão, no budismo, no espiritismo enfim a premissa do ser solicito a necessidade do outro, a ajudá-lo em suas necessidades, porém para nós cristão a dinâmica é mais desafiadora é preciso dar-se para o outro, afinal não foi isso que nosso Mestre Jesus fez? De fato, podemos chegar facilmente a essa conclusão, Deus só sabe amar! Por isso a Escritura afirma “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16).  Vejamos amar é uma decisão, é uma ARTE sim, uma arte que é preciso saber usar, como dizia o pensador “Amar é bom; saber amar é tudo”[3], aprender essa arte é sem duvida tarefa árdua mais como gostava de dizer Chiara Lubich “A verdadeira arte de amar emerge por inteiro do Evangelho de Cristo” por isso o único modo de aprendermos a amar ao moldes de Cristo é simplesmente AMANDO.
Daí fica fácil responder a pergunta, Qual amor eu tenho por mim? Se for o que sufoca e quer as coisas só pra mim, amar o outro será sempre carta fora do baralho, agora se for o amor que emana de Jesus Cristo, esse sim vai nos levar a fazermos nosso amor passar pelo crivo do Irmão, vai fazer com que nos despojemos do supérfluo e de verdade aprendamos a Amar a Deus de tal forma que nada mais me será tão caro, existirá vontade de assim proceder, basta querer e buscar, como já foi dito é uma decisão e uma vez assumida deve nos levar a amar o irmão a ponto de se preciso for, dar a minha vida por ele, a exemplo do que fez Cristo Jesus por nós. 
               Um abraço fraterno, boa semana.
Deus lhes abençoe.

Alexandro Freitas


[1] Bento XVI, Deus Caritas Est – Sobre o Amor de Deus , 2005.
[2] Narcisismo descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo. A palavra é derivada da Mitologia Grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o desejava. Como punição, foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de levar a termos sua paixão, Narciso suicidou-se por afogamento.

[3] Chateaubriand, F.-R. In: Aforismi e citazione Cristiane. Casale  Monferrato: Piemme, 1994, p. 17.  

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